Confesso...

Confesso... Que a princípio foi uma catarse, eram tantos sentimentos contraditórios.
Penso hoje que receber um diagnóstico de autismo, como eu recebi, sem rodeios, no seco, na verdade foi como sofrer um "estupro emocional", naquele momento eu só tive noção da dimensão da minha solidão.
O tempo parou e eu não queria ir para o futuro, que a médica havia me descrito.
Martelava na minha cabeça... "Daqui pra frente, será sempre pra pior...”. O presente já estava tão ruim, como ir para aquele futuro?
Fiquei surda, hoje sei que naquele momento eu me neguei e a morte seria tão bem vinda, mas é claro que ela não veio e eu tive que voltar pra casa.
Eu estava tão descompensada que me esqueci do carro e voltei a pé, trazendo a filha, que eu havia projetado e desejado, morta! E ainda atrelada a mim. E esta outra filha vinha segurando nas minhas mãos...
A filha que eu sonhei...(Todas nós sonhamos, por toda a gravidez)... Eu tive que matá-la, dentro de mim, muitas e muitas vezes.
Ainda hoje eu a mato, em alguns momentos. É difícil!
Mentira!...É horrível matar a própria filha.
Mas eu precisava matar o sonho, a projeção!...Só assim pude ficar livre para amar a filha que Deus me deu.
Tive depressão, perdi a memória, deixei de saber escrever. Fui ao fundo do poço, eu precisava ir, penso que tudo na vida deve ser vivenciado até o seu limite e naquele momento eu precisava saber qual era o meu limite de sofrer, precisava aprender a lidar com todas aquelas "emoções", que eram novas pra mim e eu não sabia o que fazer com elas.
Lembro que num final de tarde, eu estava chorando na sacada do meu quarto, quando a ouvi dizer, da sacada do quarto dela... ”Sérgia não chora! Olha, eu estou aqui, com você...”
Foi como uma bofetada no rosto!...
Eu estava com tanta pena de mim, com tanta pena dela, só enxergava o autismo, não via a filha que eu tinha na minha frente. Senti tanta vergonha da minha covardia. E compreendi que aquela filha merecia uma mãe melhor do que eu estava sendo.
E naquele momento, renascemos! Quando ela me falou e o nosso olhar se cruzou, renascemos juntas! Somos fruto de um olhar cruzado, nascemos no crepúsculo, justo no momento em que o sol se deitava no ocaso. Nunca quis, tanto, a filha que Deus me deu, como naquele instante. E a partir daí, passei a amá-la como ela é: metade minha, metade de Deus; metade terrena, metade celestial; metade real, metade fantasia...
Esta ambigüidade é minha, e esta experiência milagrosa de dar continuidade pra obra de Deus, em perfeita parceria com o Divino, com o Sagrado, se tornou pra mim uma verdadeira missão de vida. Sinto a distância o cheiro do preconceito e o repudio, com todas as minhas forças.
Eu preciso decodificar o mundo pra minha filha, e para isso, sinto necessidade de olhar pra obra de Deus, com olhos mansos e pacificadores, para poder mostrar a beleza e a poesia de viver a vida, pra ela. Preciso mostrar a bondade, existente no coração dos homens para que ela aceite viver e se sentir segura entre nós, que já nos distanciamos tanto da nossa metade divina, já há tanto tempo.Ah! Nem sabemos do quanto que somos fortes.
Hoje, agradeço por não ter morrido, diante de uma pequena dor. Agradeço mais, agradeço, por ter aprendido a renascer. Foi dolorido?...Foi sim, mas ao Filho do Homem foi destinado o nascer entre dores...
E isto me fez ver o quanto eu sou humana, como todos que circulam a nossa volta.
Mas eu tive a oportunidade, rara, de renascer das dores e encontrar o meu lado divino, e ser despertada pra servir a Deus e a Nathália quase Divina, que por vontade Dele, tem-me como mãe menor, pequena, mas que todo dia, com ela aprende a ser maior e melhor.


Sérgia Cal

5 comentários:

  1. PRIMA DEUS LHE DARA MUITA FORÇA, É ELE SABE QUE VC É UMA GUERREIRA, TEU PRIMO TI AMA

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  2. Querida Sérgia! Você está começando muito bem com o teu blog. Estes sentimentos que você escreveu hoje mostra que todas nós, mães, passamos por tantos sofrimentos mas também de alegrias ao constatarmos o desenvolvimento de nossos filhos. Continue amiga! Dê um beijo na Nathália. Beijos, Yvonne

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  3. Oi Querida, estava escrevendo o email, mas vi que já colocou os blogs amigos aqui, né? Fuçando a gente aprende. Legal encontrar meu blog aqui.
    Sua filha é linda!!!!!!! Você só tem ela? Me conta um pouco da sua experiência. Quando foi essa foto? Fico tentando imaginar minha vida daqui a uns anos, sei que não temos garantia que vai ser igual a fulano ou sicrano, mas é bom compartilhar experiências. Beijo grande.

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  4. Sérgia! Mesmo de longe, sou uma grande admiradora tua! Adorei teu blog, tenho certeza que vai acrescentar e muito na vida das pessoas!
    Um grande abraço!
    Ana Paula

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  5. Querida Sérgia! Espero que nasça aqui uma amizade eterna! Fiquei muito feliz com as tuas palavras e desejo de todo meu coração que Deus te acompanhe sempre, pq estás escrevendo uma história vitoriosa!
    Para seguir meu blog, é clicar em seguir pertos dos rostinhos das pessoas. Não se preocupe, eu sabia seguir colocando a foto e agora não sei mais...kkkk
    Um grande abraço!

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