Estamos no início de abril, em plena pandemia do corona vírus, estou bastante assustada com tudo que vejo, e leio, e ouço...o mundo deu uma cambalhota e está do avesso ou de cabeça pra baixo.
Não tenho dormido direito, me preocupo com as vidas expostas ao vírus e com a economia dos ´países...
Que Deus nos ajude, que seja por nós... 
2020...Mal começou e já está tão comprido...
Neste ano a Irene, minha mãe, faz cem anos...infelizmente ela está acamada já uns três ou quatro meses, nada tem sido fácil.
A Nathália tem sofrido muito, pois tem assistido o sofrimento da avó, e tem estado muito estressada com tudo, se irrita e briga por tudo e com todos..eu estou sempre na linha de frente...não tem como não sofrer duplamente com tudo isso.
Não vejo a Irene melhorar... e já sei onde tudo isso vai acabar, só lamento pelo sofrimento e pela solidão...tenho estado com ela todas as horas, mas sei que eu não basto, não é de mim que ela sente falta.
As noites tem sido cheias de amargura e sofrimento...
Nem sei se em todas as horas ela me reconhece, muitas vezes ela me chama de "mamãe"... e o meu coração se enche de ternura por ver a importância de uma mãe na vida da gente...a vovó morreu quando ela tinha 15 anos...e ainda hoje ela chama por ela, nas suas dores e madrugadas sem fim.
 Tenho me sentido muito doente dentro deste turbilhão de sofrimento, não posso me sentir de outro jeito. O meu filho tenta me alegrar, mas é tão difícil...
Tenho passado o tempo fazendo trabalhos manuais, tenho feito muitas coisas de que gosto, costurinhas, pinturas...enfim...invento o que fazer pra me distrair, mas não consigo muito sucesso.
Queria muito que ela não sentisse dores, não sofresse...
O meu querer não tem a menor relevância...a vida segue.
Todas as horas eu peço que Deus tire as dores do seu corpo e a deixe cumprir o seu tempo sem maiores tormentos.
Eu estou aqui mãe...te amo.
  
Meu Deus há quanto tempo eu não venho aqui...já nem sabia o caminho que tomar pra poder escrever no blog.
Tenho andado muito ocupada...é a vida me dando muito trabalho...
A minha filha já está com 25 anos e a minha mãe está cada vez mais velhinha...sim, já me dá algum trabalho, mas graças a Deus ela tem uma saúde boa...
Espero ter forças pra voltar aqui mais vezes e poder me distrair um pouco escrevendo...

A revelação...

Um dos primeiros textos que eu li depois de saber que a Nathália havia desenvolvido o autismo...Li no Livro do meu amigo Nilton Salvador.


A escolha Divina.

“Deus escolhe a mãe da criança deficiente.
A maior parte das mulheres hoje em dia tornam-se mães por acidente, outras por escolhas próprias, outras por pressão social e outras tantas por hábito.
Este ano muitas mulheres se tornarão mães de crianças deficientes.
- Você alguma vez já pensou como as mães dos deficientes são escolhidas?
- Eu já, uma vez visualizei Deus.
- Sim, Deus lá...
- Deus estava pairando sobre a Terra selecionando o seu instrumento de propagação com grande carinho e compassivamente.
Enquanto observava, Ele instruía seus anjos a tomarem nota em um grande livro:
- Para essa Mãe, um menino, anjo da guarda.
- Para essa Mãe, uma menina, anjo da guarda.
- Para aquela Mãe, gêmeos, anjo da guarda.
- Para essa outra Mãe, mande este, anjo da guarda, que está acostumado com a profanidade.
Finalmente, Ele passa um nome para o anjo, sorri e diz:
- Dê a ela uma criança deficiente.
O anjo, cheio de curiosidade, pergunta:- porque a ela, Senhor? Ela é tão alegre...
- Exatamente por isso. Como eu poderia dar uma criança deficiente para uma Mãe que não soubesse o valor de um sorriso?
- Seria cruel.
- Mas será que ela terá paciência?
- Eu não quero que ela tenha muita paciência, porque aí ela com certeza se afogará no mar da autopiedade e do desespero.
- Logo que o choque e o ressentimento passar, ela saberá como se conduzir.
- Eu a estava observando hoje.
- Ela tem aquele forte sentimento de independência.
- Ela terá que ensinar a criança a viver no seu mundo, e não vai ser fácil.
- E além do mais, Senhor, eu acho que ela nem acredita na sua existência.
Deus sorri...
- Não tem importância.
- Eu posso dar um jeito nisso.
- Ela é perfeita.
- Ela possui o egoísmo no ponto certo.
O anjo engasgou-se: egoísmo... E isso é por acaso uma virtude, Senhor?
Deus acenou um sim e acrescentou:
- Se ela não conseguir se separar da criança de vez em quando, ela não sobreviverá.
- Sim, essa é uma das mulheres que eu abençoarei com uma criança menos perfeita.
- Ela ainda não faz ideia, mas ela será também muito invejada.
- Sabe, ela nunca irá admitir uma palavra não dita, ela nunca irá considerar um passo adiante uma coisa comum.
- Quando sua criança disser mamãe pela primeira vez, ela pressentirá que está presenciando um milagre.
- Quando ela descrever uma árvore ou um por-do-sol para sue filho sem visão, ela verá como poucos já conseguiram ver a minha obra.
- Eu lhe permitirei ver claramente coisas como ignorância, crueldade, preconceito e a ajudarei a superar tudo.
- Ela nunca estará sozinha. Eu estarei ao seu lado em cada minuto da sua vida, porque ela estará trabalhando junto comigo.
- Bom, e quem o Senhor está pensando em mandar como anjo da guarda?
Deus sorriu...
- Dê a ela um “espelho, é o suficiente”.



Filhos especiais são sempre filhos de Mães especiais, como nós!
Beijos a todas as mães iguais a mim.
Sérgia Cal 
 

   

O ano de 2007 e a Nathália





                        Esta fotografia foi tirada pra uma reportagem sobre o autismo no Brasil, e em 11 de junho de 2007 ela estava disponível ao público na revista Época, foi tirada pelo fotógrafo João Ramid.
                       Lembro que naquela época eu estava as voltas com o meu filho mais velho, Rodrigo, hospitalizado.
                       Ele havia sofrido um acidente de carro e tinha feito fratura na base do crânio. Graças a Deus sobreviveu e não ficou com nenhuma sequela.
                       Penso que foi um ano de grandes vitórias, de milagres...
                       Esta reportagem me rendeu amigos no Brasil todo e até fora dele e são amizades que eu tenho muito carinho, pois divido com elas muitas das minhas angústias e alegrias que só nós, pais de autistas, entendemos e sentimos.
                       Naquela época a Nathália estava com 14 anos e fazia balé, além de desenhar compulsivamente, é claro...
                       Hoje ela está com 20 anos e continua desenhando...
                       O balé foi deixado de lado por muitos anos, pois ela engordou muito por causa de algumas complicações hormonais, uma disfunção genética nas supra renais andou tumultuando as nossas vidas, mas este ano ela retornou ao balé, afinal ela tinha que fazer alguma atividade física e o balé era a única coisa no mundo que ela queria fazer...
                       Tentou de tudo, até artes marciais e até ter que lutar, ela ia bem, mas na hora de cair no pau...kkk... Não ia pra frente e acabou por declarar pra professora..."Você não vê que eu sou delicada demais pra fazer isso"...
                       E com esta declaração ela encerrou a arte marcial da sua vida e resolveu voltar pro balé. Agora em uma turma de adultos, só pra se exercitar e ela adora...


A vida e o silêncio

Cansei do silêncio e cansei de tanto pensar!
Lá se vão alguns muitos dias, cheios de angústia e desencontros e de muita aprendizagem...Coisas do dia a dia, coisas da vida...
Que segue, graças a Deus!
Nestes dias, muitas foram as situações em que pensei em vir aqui, mas eu tava tão conturbada, eu tava tão cheia de mágoa com a vida, com muitas pessoas e principalmente comigo...
Eu precisava perdoar, não só os outros, mas principalmente a mim, afinal era muita vida já vivida e que não tinha mais jeito, mas que não dava pra apagar.
O funil era um fato...Eu precisava aceitar.
Eu sempre preciso aceitar... E acabo aceitando, parece sina ou maldição...
E só Deus sabe o quanto eu luto, eu tento, eu sofro...
E vencida...Aceito!
Levanto a cabeça e retorno...
Mas hoje eu me sinto mais leve, não sei se perdoei tudo ou todos... Sei que juntei os meus pedaços, sei que me dei uma outra chance, não chance de uma vida nova, mas uma nova chance de continuar vivendo a minha vida e aos poucos ir escrevendo a minha história.
A Nathália já está com vinte anos e o Rodrigo já está casado e eu estou com novos sonhos...Sei que novos desafios virão e espero continuar dando conta...Do jeito que der...
A minha mãe está bem velhinha... Já são 93 anos e depois da queda do ano passado ela envelheceu rapidamente e esta é uma nova realidade pra mim, uma realidade dolorida, pois me dói muito ver o quanto ela luta pra voltar e recuperar o que era antes e não consegue e o único jeito é tentar disfarçar e eu deixo... Finjo que acredito ou que não vejo e me obrigo a ficar mais tempo com ela... Ah! O tempo. O tempo que não pára, que não retrocede, que não perdoa nem a mim, nem a ela...
É a vida... E está sendo assim...
O futuro a Deus pertence!
Em 16/08/2013   
Pensando...
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê! (Florbela Espanca)
          Eu sou oceano...