ALGODOAL

Praia da Princesa


Prepare a mochila e ponha os pés na estrada. Venha!...
Não deixe de trazer: o coração, e todos os seus sentidos.
E prepare-se para maravilhar-se diante da natureza quase intocada destas praias belas e distantes. Este paraíso agreste, que existe no estado do Pará-Brasil.
Venha a qualquer hora, mas venha!...
Viaje de preferência pela manhã, recém nascida ou por nascer, mas não deixe de pensar em fazer esta viagem numa noite enluarada.
Por todo o percurso permaneça de olhos bem abertos para poder apreciar a natureza exuberante que há de se mostrar sem segredos.
Dentro do longo verde que se arrasta, é fácil se encantar com os igarapés, finos cursos de águas cristalinas e frias, que brotam e recortam a floresta que margeia a estrada.
Pode-se apreciar o ir e vir dos moradores dos vilarejos no curso do caminho, e ainda olhar pra alguma casinha perdida na imensidão da floresta e imaginar o peso da solidão, que se agiganta numa noite escura e chuvosa.
Não esqueça de parar e descer pra poder olhar e cheirar as frutas da região, que são vendidas em palhoças, ao longo do caminho e se encantar com a simplicidade dos moradores da amazônia.
Ao fim do curso da estrada, há um caminho que te leva ao mar.
A travessia é feita em embarcações pequenas, próprias da região amazônica, e é um outro prazer pra se desfrutar.
Impossível impedir que os teus sonhos, alvoroçados alcem voo e se evadam pra longe da tua alma, em busca de outros sonhos pra sonhar.
Na viagem, de balanços cadenciados pelas ondas do mar, mar que se ondula em vagas empurradas pelos ventos. Ondas que espocam em espumas e coroam as vagas, que acarinham os barcos e se estendem mansamente nas areias.
Na travessia divisamos ao longe, ao longo da costa da ilha de Maiandeua, a praia da Corujinha e a praia da Mocinha, praias de areias brancas, distantes e desabitadas que nos instigam o imaginário.
Nas vagas do rio que se lança no mar em fúria, vimos que brancas garças elegantes atravessam a embocadura, num voo sereno, enquanto as gaivotas, barulhentas e agitadas, se lançam em mergulhos certeiros em busca de pequenos peixes pra se alimentar, dividem ainda o céu com borboletas em vários tons de amarelo, que fazem do seu voo irregular, uma alegria pros olhos... Enquanto os guarás mancham o céu de pontos vermelhos que se movem ou pontilham o verde extenso da costa de vermelhos longínquos.
São 45 minutos, em que podemos dar asas aos sonhos ou deixá-los navegar nas velas coloridas das pequenas embarcações do caminho.
Descer da embarcação no vilarejo de Algodoal é dar um passo atrás, no tempo.
É voltar a um passado ainda recente.
Pisar em suas areias finas e brancas, que ao sabor dos passos, assoviam. Sonorizando o caminho cheio de luz e vento, enquanto as charretinhas rústicas transitam entre a praia da Chegada e o povoado...
Da vila de ruas retas, de chão batido e povo pacato e musical, ouve-se ao longe a cadência do carimbó e de toadas de outros ritmos que animam e embalam sonhos e amores.
Seguindo em busca de outros encantos, atravessa-se em canoas pequenas, um pequeno furo, quando a maré está alta, e já diante do oceano, perde-se no olhar a imensidão da praia, do céu e do mar...
Conta à lenda, que na praia da Princesa, nas noites de luar, é possível ver uma linda mulher de longos cabelos negros, que arrasta a sua solidão pelas areias da praia e das dunas, e que nas madrugadas, ela branca e nua se banha ao luar.
E nas águas escuras do seu lago, encravado nas dunas e circundado por uma vegetação rala que o protege dos olhares curiosos, antes que o dia amanheça, é naquelas águas que ela desaparece... Até que num outro luar ela retorna à sua sina de andar, sozinha, e linda e nua na praia a se banhar.
De onde ela vem? Ninguém sabe. Quem ela é? Ninguém sabe. Se ela existe? Os nativos garantem que sim...
O certo é que ela existe no imaginário popular, que enche a ilha de Maiandeua de sons, encantos e magias, onde a proximidade e a solidão da floresta amazônica e a imensidão do mar, se fundem... Pra nos fazer sonhar...
Vá mais adiante, explore as possibilidades. Conheça as praias de Fortalezinha, de Mocoóca, vá a pé, de charrete, de barco... Mas vá, porque vale a pena! 
E pela noite chegada, com olhos fartos de tanta beleza, se recoste na areia morna e olhe pro céu. E em comunhão com o criador, deixe que as estrelas se fartem dos seus olhos.
Em qualquer direção que você olhar há uma beleza a ser captada, uma emoção a ser sentida, um sonho a ser sonhado.
Capture todas as imagens com a lente de uma máquina, e tente colorir a paisagem com as emoções da alma.
Pegue a sua mochila de volta, dobre as costas, e se afaste de Algodoal.
Traga no peito o coração leve...
Mas se na travessia da volta, o peito apertar de saudade, deixe uma lágrima rolar lentamente sobre o rosto. São estas lágrimas de saudade, que lavam e branqueiam as areias das praias de Algodoal.
O coração agradece e Algodoal te espera para um novo encontro...
Seja numa noite escura ou clara pelo luar.
Não esqueça de voltar!...Em breve!...
Sérgia Cal 


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