No Vivencias Autisticas

O meu amigo Nilton, me deu oportunidade de postar no blog: Vivenciasautisticas.blogspot.com , dentro da série Mãe de Autista.



Dia das mães

Eu já era mãe quando a Nathália nasceu, e já há dezoito anos vivo esta emoção com ela.
Penso que todo dia é dia das mães, mas guardo na memória pelo menos dois “Dia das Mães”, em especial.
No início de 1997 a Nathália já vivia as alterações, quase imperceptíveis, do autismo e eu não sabia, lembro que naquela época ela brincava horas com as suas mãozinhas gorduchas e eu achava lindo...
Neste ano no colégio dela fizeram uma homenagem para as mães, e lá fui eu pra ser homenageada.
Da homenagem a Nathália pouco participou, mas tão logo a professora largou o microfone ela dele se apoderou e disse em alto e bom som, por várias vezes:
-Mamãe eu te amo... Eu te amo... Te amo... Amooooooo...
Quando então a professora tirou dela o microfone, lembro que ela ficou com o olhar preso nas suas mãozinhas... E eu fiquei ali, olhando pra ela, com o coração suspenso e totalmente descompensado e sem saber por quê!
Passei muitos anos sem ouvi-la se tratar de “Eu”, ela passou a se tratar de “A Nathália”.
Depois de muito tempo eu entendi que a minha filha se despediu de mim, solenemente, me fazendo uma declaração de amor.
Logo em seguida vieram de modo acentuado, todas as perdas, principalmente na área da linguagem, que por fim ficou reduzida a sete palavras: a-Nathália-quer-água-xixí-cocô-isto.
Foram anos muito difíceis, nos quais eu busquei a minha filha incansavelmente, e é claro que os progressos vieram, muito lentamente, e eu passei, a saber, contra quem lutar... O autismo.
O autismo devastou a minha vida, levou a minha filha embora, e me deixou com esta busca desesperada, passei noites e noites acordada pesquisando, estudando, elaborando estratégias pra recuperar o que tinha sido perdido e ir além, e tão logo o dia amanhecia colocava em prática a nova idéia, o novo palpite, tudo o que eu acreditava que daria certo.
Os dias foram ficando tão longos...
A Nathália evoluía e retrocedia e lá adiante evoluía novamente... Assim  passaram-se meses... Anos...
Todo dia era dia de filha, nem lembro se teve algum dia das mães, minha cabeça fervilhava de idéias e tormentos, a minha busca era o meu guia...
Com o passar do tempo vi que ela mais evoluía que retrocedia e fui acalmando o coração, recuperamos a linguagem, a idade motora já correspondia a sua idade real, ela estava por fim desabrochando... Evoluindo muito lentamente, mas evoluindo sempre.
Nestes anos “O Dia das Mães” foram todos iguais: Eu me aprontava, ia ao colégio e ela não participava, fosse a homenagem que fosse.
Já em 2004, o colégio em que ela estudava resolveu fazer ma homenagem pro Dia das Mães em que os alunos cantariam a música “Nossa Canção” do Roberto Carlos.
Não deu outra a Nathália resolveu, de última hora, não participar, e enquanto todas as mães foram se reunir no pátio do colégio, eu fiquei sozinha no corredor, em frente à sala de aula, onde ela havia se homiziado.
Mas quando os colegas começaram a cantar, ela saiu da sala de aula, encostou a testa no meu queixo, me abraçou e cantou baixinho, só pra mim, todos os versos da música, enquanto lágrimas quentes molhavam-me o rosto...
Fiquei muito, muito emocionada!...
Deixei-me abraçar e me abracei naquele abraço... Chorei!...
Chorei convulsivamente, pois me lembrei que com palavras de amor, a “outra Nathália”, de mim havia se despedido, e naquele momento, já em franca recuperação, ela me presenteava, no “Dia das Mães”, com mais uma declaração do seu amor, que fazia valer a pena tudo o que havia sido vivido e sofrido pra tê-la comigo de volta... Mesmo que em outra condição...
Hoje o autismo da Nathália é só um detalhe da pessoa linda que ela é, e por mais que ele insista em nos fazer sofrer, já conseguimos passar por cima dele, sem maiores tragédias.
Por todos esses anos eu aprendi a compartimentar dores e desilusões, e com isso cada vez mais, eu sofro menos.
Aprendi a treinar o meu olhar pra buscar, na minha filha, todo e qualquer traço de felicidade e me satisfaço, afinal pra fazê-la feliz é preciso tão pouco...
E no fim é só isso que eu quero...
Ver a Nathália Feliz!...
E esta certeza da sua felicidade me garante ter, todos os anos, um feliz Dia das Mães...
Belém, 23 abril de 2011.
Sérgia Cal,  mãe da Nathália, que é autista, quase que todo dia...kkkk...ou quase que o dia todo...kkkk   

7 comentários:

  1. Oi Sergia,
    hoje que fiquei sabendo desse blog...rsrsrs...tô meio defasada...
    Feliz Dia das Mães prá vc!!!
    Saudades,
    Claudia Moraes

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  2. Sérgia, amei amei amei seu relato desses dois dias tão marcantes... Nathália é uma fofa e me encantou! Mas como ontem foi dia das mães, eu vou falar um pouquinho de você... você é uma mãe linda, que busca felicidade dos filhos, ama incondicionalmente, age, pesquisa, busca e encontra! Você é uma amiga linda que tenho muita vontade de ver de novo pessoalmente. Você escreve muito bem e tô super feliz com esse blog e porque você está mais pertinho da gente contando as novidades e nos presentendo com lindas fotos. Você me deixa emocionada e me faz chorar mas é um choro esperançoso de que tudo vai dar certo e que traz a certeza que o autismo revela pessoas maravilhosas. Parabéns todos os dias pois você merece.
    Bom, só pra finalizar o comentário eu tenho que falar dessa foto da Nathália com o yukata... eu e a Karla fomos ano passado de yukata em um festival japonês... ela ia amar e com certeza iria nos acompanhar... ela ficou linda. Tem essa foto colorida? Você tem que ver eu e a Karlota de japonesinha... no FB e no orkut. beijos

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  3. Sabe Sergia conheci você e sua princesa em um momento complicado para mim em busca de ajuda e suporte emocional Deus me mostrou seu anjo que de cara me disse fazer lindos desenhos! fiquei encantada com tudo nela!tudo mesmo! me deu a senssação meio assim ve se vc me enteende!? haaa então autismo é assim!pensando na adolecencia e senti uma grande alivio!como mandar um bicho papão embora! pq achei sua filha incrivel!é incrivelmente maravilhosa! e converçando com você um pouquinho em pequeno trajeto do hotel a outro hotel onde fariamos um curso pode ver o quanto você se dedicou trabalhou mesmo! para sua filha chegar até onde chegou e é me espelhando em mães como você que eu tento fazer minha trajetória e é olhando para Natalia que da pra ver o quanto cada lagrima suor e dedicação dada vale muito muito apena! e mesmo tendo passado o dia das mães eu como sempre atrasada na correria da vida hoje quiz vir aqui dizer para você que desejo de coração felicidades todos os dias!bjssssss
    fala para sua princesa que se ela quizer fazer um desenho para mim vou por em um quadro e quardar com maior carinho!:).
    Att: Andreia Amicucci

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  4. Olá Sérgia!
    Vim parar aqui, por conta de um comentário que vc deixou na "sala da la". Queria dizer que me emocionei com seu blog.
    Muita força sempre !
    Beijos

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  5. Oi, Sérgia!
    Tenho ficado pouco na internet nesses últimos dias, olhando de vez em quando, apenas para fazer a mediação e o post onde deixou o seu comentário.
    A princípio, vendo seu perfil achei interessante ser de Belém, cidade que conheço muito bem, onde mora minha mãe e irmã.
    Li seu texto, do início ao fim; confesso que mergulhei de cabeça na sua viagem no tempo, no esforço empreendido na recuperação dele e da sua filha. Emocionei-me com a descrição da sua experiência.
    Gostaria, se me permitir, de reproduzi-lo lá no blog. Geralmente no fim de semana costumo publicar textos de outros autores.
    Um abraço pra você e um beijo na Nathália!

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  6. Olá!
    Li o seu texto no blog da laély, já agradeci lá, mas senti-me na obrigação de agradecer aqui, direto para você.
    Um forte abraço em você e na Nathália.
    Obrigada por me lembrar que só o amor conta!

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  7. Vim conhecer você através do blog da Laély.
    Sem palavras...só emoção...
    Beijo:)
    Janice

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