É
muito interessante, o funcionamento da nossa memória, nos últimos anos tenho me
lembrado muito de uma frase lida em um livro, há tantos anos, que fico
imaginando os longos caminhos trilhados pelos meus neurônios pra desencavilhar esse pequeno detalhe em meio a tantas lembranças...
Ӄ
tão estranho o País das Lágrimas...”.
Essa
frase ressoa na minha memória, e hoje mais do que antes ela me impacta.
Tenho
a impressão que nasci sorrindo...Talvez resida aí a minha dificuldade de lidar
com a tristeza, e esta parece ser a grande sacada: ver e lidar, com a tristeza,
e ao mesmo tempo ensinar a sorrir. Acho que essa é a grande lição, é o dever de
casa... O que fazer... Só fazendo é que se aprende.
Há
poucos dias a minha filha, que tem talento pra tristeza e para o mau humor, me
perguntou muito seriamente:
Mãe,
eu não estou acordando feliz?
E
lhe respondi - É verdade, filha!
Ela, aos prantos, me indagou.
E
aí mãe, se eu não quiser acordar feliz o que vai acontecer?
Eu
me senti paralisada por dentro, e tentando manter a calma disse a ela:
Filha
é tão melhor sorrir que chorar, quando a gente chora, o nosso coração se enche
de tristeza e amargura, a boca fica amarga feito fel, e a gente seca por
dentro... A boca, o coração, e tudo que fazemos é ruim ou mau, assim como tudo
que pensamos e os nossos olhos acabam se encharcando com tantas lágrimas.
E
a visão do que eu falava me enchia de terror, e a cada palavra que eu dizia
mais ela chorava desconsoladamente (também pudera!), e assim me confessou.
Sérgia,
eu estou chorando e não consigo parar!...
Como
interromper aquele choro torrencial? Como ensinar o exercício da felicidade? Como
curar uma doença da alma?
Já
faz muito tempo que me foi roubada a infância, na verdade faz tanto tempo que
já nem lembro se criança fui, mas o País das Lágrimas até hoje só visito em
datas especiais, com hora marcada (a ferro e fogo) e tão logo cumpra o meu
destino, retorno à minha “disque” felicidade, é nela que eu me refugio e
encontro forças.
Como
imaginar que a minha filha, que justo ela, esteja de malas prontas e passaporte
em mãos, esteja justamente, querendo pra esse país se mudar, e ficar lá...?
Meu
coração vem à boca, e involuntariamente o estômago se contrai, e com facilidade
se infere que prefiro uma filha apátrida...
É
muito estranho e assustador o País das Lágrimas...
Assusta-me
a perspectiva da infelicidade, agora a infelicidade da minha filha... Esta me
causa horror.
Sinto
pânico puro!
Quando
na sua inocência ela me diz e me pergunta – Sérgia, eu não sou feliz!... Mãe, eu sou infeliz?
Tudo
ao meu redor perde importância, e com facilidade concluo, que fazê-la feliz,
seria meta primeira, se possível fosse!
Sinto-me
impotente...Tenho ciência exata de que a minha vontade é nada, e não tenho
noção de como poder ajudá-la.
Que
inútil que eu sou!
É
como se caminhasse o tempo todo, em cima de uma linha invisível e tivesse que
seguir em frente, inexoravelmente...
Tateando, tendo a escuridão por companhia.
A
visão próxima do país das lágrimas é verdade, me modificou ... Impus-me algumas mudanças, não
as programei, elas foram se assentando na minha maneira de ser.
Em
geral penso que são pequenas nuances, mas quando me olho no espelho, enxergo
apenas a sombra do que fui.
Fiquei
quase sem sorrisos, hoje me esforço pra ser feliz, e às vezes quase consigo! Se
não fosse o “quase”...
Sinto
falta de mim, de como eu era, do olhar particular que eu tinha da vida, do
humor como a encarava, e tudo virou poeira...
Ah!
Sinto saudades de mim...
Em algum dia de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário